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Estas são algumas das razões que sustentam a nossa proposta para a criação de uma
disciplina de Filosofia e Culturas Lusófonas no espaço de ensino superior lusófono. Isto
é, a criação e implementação de uma disciplina em todas as universidades e instituições
de ensino superior no Brasil, em Angola, Moçambique, Portugal, Cabo Verde, Guiné
Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor, entre outros países ou regiões interessadas. Não
podemos negligenciar a possibilidade, até agora para nós desconhecidas, de que já tenha
sido criada uma disciplina com as finalidades que estamos a apresentar, talvez com outra
designação. As unidades de investigação desta área do saber também são escassas e,
quanto muito, são raras aquelas que se dedicam a investigar as problemáticas da filosofia
africana e de outras em simultâneo. Quanto muito, as disciplinas de âmbito intercultural
têm uma palavra a dizer neste sentido, e muito têm contribuído nas investigações sobre o
outro. Mas, muitas vezes, a componente filosófica fica comprometida. Neste aspecto, o
estudo da filosofia luso-brasileira ocupa um lugar de destaque, tendo em conta o
desenvolvimento económico do Brasil nas últimas décadas, o aperfeiçoamento ao nível
de investigação tecnológica, científica e filosófica, bem como, os graus de parentesco que
Brasil e Portugal comungam. Mas, apesar de os trabalhos serem frutíferos e inspiradores,
não deixa de ser verdade que o espaço de diálogo e reflexão pressupõe somente uma
relação a dois, colocando os restantes actores num cenário de fundo, secundarizando a
sua voz, remetendo-os para uma posição meramente transversal e, muitas vezes,
periférica ou marginal.
Como já foi referido, o ponto de encontro de todas estas culturas e formas de pensar
distintas reside na sua unanimidade quanto à controvérsia da existência de uma filosofia
nacional autêntica. Este poderá ser o ponto de encontro, mas também de partida. A
controvérsia universal dos países que falam a língua portuguesa poderá muito bem ser o
ponto de convergência entre os países, e a divergência das suas formas de pensar poderão
ajudar a encontrar caminhos alternativos e até mesmo confluentes para este e outros
problemas filosóficos, culturais e interculturais. A disciplina de Filosofia e Culturas
Lusófonas estudaria não só a filosofia nacional própria do país, os seus principais temas
e problemas, a sua história da filosofia e o pensamento dos seus filósofos, como também
investigaria a filosofia e cultura de outros países, de uma forma multiforme ou
direccionada conforme as orientações pedagógicas e científicas e interesses subjectivos
de um grupo ou investigador. Não se pretende afirmar com tudo isto que se deve
prescindir, numa primeira fase, das disciplinas que visam o estudo e a investigação das