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Seria repetitivo e um muito dizer sem novidade, afirmar que o terrorismo tornou-se numa
das preocupações centrais da actualidade de segurança nacional e internacional. Mas, o
que não seria repetitivo nem um muito dizer sem novidade, é pensar que o terrorismo tem
tudo para ser invencível por causa justamente das suas diversas formas, ou melhor, por
causa da sua contínua inovação e que pode também ser lida, como uma ausência de forma.
As razões são muitas e não estamos para discuti-las, mas como o pensar é próprio da
admiração e do espanto, choca-nos ver o Egipto e todos os outros países que estão debaixo
da mira dos terroristas, viver precisamente à custa do terrorismo. Viver com o medo do
dia seguinte, o medo das horas depois.
O Egipto, por causa da intolerância terrorista, decretou três meses de estado de
emergência em todo o país, numa altura em que uma boa parte da comunidade cristã
celebra a PÁSCOA, o país que durante muito tempo representou o nascimento do
cristianismo de várias confissões e de vários tipos de espiritualidade, os seus fiéis cristãos,
vivem com o medo de serem identificados como cristãos. Esta religião muito estranha,
que muito rapidamente se universalizou, também deveu uma boa parte da sua
universalidade ao Egipto e algumas grandes cidades antigas do Egipto entre elas a
Alexandria, “que foi durante quase mil anos um centro extraordinário de saber e
conhecimento, bem como um local eminentemente cosmopolita de encontro de
civilizações e culturas” (José Manuel Anacleto, 2008:19). A própria vivência do
cristianismo dos primeiros séculos corresponde e se encaixa bem naquilo que foi a própria
Alexandria do século II d. C.
O Terrorismo e a Banalidade do Mal: O Egipto e Todos os Outros
Terrorism and the Banality of Evil: Egypt and All Others
Terrorismo y la banalidad del mal: Egipto y todos los demás
Terrorisme et banalité du mal: l'Egypte et tous les autres
Inácio Valentim
0000-0001-6207-0280
Doutor. Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, Huambo, Angola
Inaciovalentim82@gmail.com
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[…, assim é Alexandria no século ii. Para onde quer que olhemos, onde quer
que nos encontremos seja qual for o nível a que aí interroguemos a história,
descobrimos todas as raças (só os chineses ainda não estão), todos os continentes
(África, Ásia, Europa), todos os séculos (os do antigo Egipto que conserva os
seus santuários, os de Atenas e de Roma, os da Judeia, da Palestina e da Babilónia),
reunidos nessa cidade, nó do Delta que está para o rio como estão para o homem os
pulmões e para a árvore os ramos: lugar por onde respiram, lugar que os inspira].
(Jacques Lacarrière, 2001: 70).
É de certa forma, este lugar, este passado, esta história e esta realidade milenar que os
terroristas querem sepultar e dar como companhia a própria sombra do medo, a incerteza,
a interrogação de pensar se vale a pena morrer pela fé. Sob invocação de ortodoxia e de
um eugenismo religioso, tentam que um islamismo não islâmico seja a referência da
religiosidade, seja a RELIGIÃO num espaço milenar de multiculturalidade.
[Lá se encontram, associam ou opõem o paganismo egípcio, grego e
romano, o cristianismo copta, o judaísmo, as filosofias neoplatónicas, o hermetismo
e ainda outros sistemas, misturados por uns em sincretismos efémeros, que outros,
especialmente os cristãos,…]. (Jacques Lacarrière, 2001: 73).
O desaparecimento dos cristãos no Egipto seria o desaparecimento de uma parte da
história de África, de uma das novidades que a África deu ao mundo, basta pensarmos
que há fortes indícios históricos que apontam que os quatro Evangelhos canónicos sejam
escritos no Egipto, de modo particular, em Alexandria, isto pode não interessar à fé, mas
interessa à história e interessa à reivindicação da história.