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[…, assim é Alexandria no século ii. Para onde quer que olhemos, onde quer
que nos encontremos seja qual for o nível a que aí interroguemos a história,
descobrimos todas as raças (só os chineses ainda lá não estão), todos os continentes
(África, Ásia, Europa), todos os séculos (os do antigo Egipto que lá conserva os
seus santuários, os de Atenas e de Roma, os da Judeia, da Palestina e da Babilónia),
reunidos nessa cidade, nó do Delta que está para o rio como estão para o homem os
pulmões e para a árvore os ramos: lugar por onde respiram, lugar que os inspira].
(Jacques Lacarrière, 2001: 70).
É de certa forma, este lugar, este passado, esta história e esta realidade milenar que os
terroristas querem sepultar e dar como companhia a própria sombra do medo, a incerteza,
a interrogação de pensar se vale a pena morrer pela fé. Sob invocação de ortodoxia e de
um eugenismo religioso, tentam que um islamismo não islâmico seja a referência da
religiosidade, seja a RELIGIÃO num espaço milenar de multiculturalidade.
[Lá se encontram, associam ou opõem o paganismo egípcio, grego e
romano, o cristianismo copta, o judaísmo, as filosofias neoplatónicas, o hermetismo
e ainda outros sistemas, misturados por uns em sincretismos efémeros, que outros,
especialmente os cristãos,…]. (Jacques Lacarrière, 2001: 73).
O desaparecimento dos cristãos no Egipto seria o desaparecimento de uma parte da
história de África, de uma das novidades que a África deu ao mundo, basta pensarmos
que há fortes indícios históricos que apontam que os quatro Evangelhos canónicos sejam
escritos no Egipto, de modo particular, em Alexandria, isto pode não interessar à fé, mas
interessa à história e interessa à reivindicação da história.