Published December 29, 2023 | Version v1
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PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM TEMPO DE CRISE E INCERTEZAS: QUESTÕES E DESAFIOS

  • 1. Instituto Superior de Ciencias Da Educaçao

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EDITORIAL

Partindo do pressuposto de que a crise que vivemos é, antes de mais, de âmbito moral e intelectual que não se deve a uma situação objetiva, mas fruto de uma ocorrência subjetiva (Crozier, 1995), o conhecimento produzido pelas instituições de ensino superior passou a ser divulgado de forma mais rápida e precipitadamente com maior tendência de ser mais questionado. Esta realidade foi bastante evidenciada durante o período da pandemia da COVID-19 e reforçada recentemente com a emergência do uso do ChatGPT nas produções científicas.

Nestes tempos de crise, a expressão “produção científica” ganhou maior visibilidade. Entretanto, sujeito a diversos questionamentos, a produção científica vive tempos áureos em que se produz bastante e difunde resultados a uma velocidade nunca experimentada. Contudo, essa rapidez na produção e na difusão do conhecimento começa a ser questionada e como tal a vários desafios, pois novas práticas como Creative Commons , salami science e recurso a assistentes de escrita como ChatGPT, desempenhando um acesso ao debate sobre questões éticas e legais .

É importante, então, que sejam feitos questionamentos e análises sobre os desafios do processo de produção científica. Por exemplo, a produção científica ao ser disponibilizada na Web, a sua difusão, experimenta expansividade e velocidade nos processos comunicacionais (Aragão & Mendes, 2017) e o seu produtor não teria mais como evitar a sua propagação. Neste sentido, se por um lado, a restrição de acesso passou a ser vista como uma anomalia, por outro lado, a dinâmica da Internet tem potencialidade para acabar com a propriedade do conhecimento.

Ao considerar a influência dessas mudanças desenham-se “as fronteiras de alguns dos progressos da ciência” (Ferro, 1998, p. 19), numa dinâmica de exigência da sociedade do conhecimento que recupera novas posturas e abordagens (Laita, 2015), ao nível do que deve ser a produção científica. Ainda para este autor a tentativa seria desafiar as Instituições de Ensino Superior (IES) a produzirem soluções e respostas face ao clima de incerteza e de mudança permanente que se vive, um pouco por todo o lado. Assinala-se, contudo, que o ponto de partida é a parte de novos cálculos que permitiram mudanças nas práticas de produção científica.

O olhar que privilegiamos, neste texto, procura dar enfase à produção científica numa época marcada por crises e incertezas. As questões que se colocam ao capital científico produzido e as implicações sociais que estas podem gerar na procura de soluções sociais que respondam aos desafios de um desenvolvimento social sustentado (Ferreira, 2013), determinantes para o avanço intelectual e bem-estar da humanidade e para desenvolvimento sustentável (Sampaio, Sabadini & Koller, 2022).

Neste cenário é importante saber quais são as questões e os desafios que se impõem à produção científica em época de crise e incertezas. Por isso, neste número da Revista Sol Nascente, alguns textos apresentam produções científicas na área da educação e sobre a pandemia COVID-19. Relativamente a educação olha-se para questões sobre os sistemas de qualidade no ensino, gestão democrática do currículo, tendências de investigação e práticas pedagógicas no ensino de história e português. Relativamente à COVID-19, abordam-se questões ligadas à produção em tempo de crise tendo como foco a cura científica educacional e os conceitos mais usados na época de pandemia.

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2023-12-29
Editorial

References

  • Aragão, J. & Mendes M. (2017). Metodologia científica. Universidade Federal da Bahia: Salvador. Bortoncello, L. & Cruz, W. (2012). Análise de temas, relações e tendências na produção científica em tecnologias e educação. CESUMAR: Vol. 14, Nº 2 (2012): Iniciação Científica. Crozier, M. (1995). A crise da inteligência: ensaio sobre a capacidade de reforma das elites. Instituto Piaget: Lisboa. Ferreira, A. (2013). O papel do Ensino Superior no quadro do desenvolvimento em Moçambique. Revista Eletrónica de Investigação e Desenvolvimento: Vol. 1, Nº 1 (2013): Cooperação Internacional e Desenvolvimento em Moçambique. Ferro, M. (1998). As sociedades doentes do progresso. Instituto Piaget: Lisboa. Laita, M. (2015). A universidade em questão: uma leitura do processo de Bolonha no contexto moçambicano. Fundação AIS: Nampula. Koller, S.; Couto, M. & Hohendorff, J. (2014). Manual de produção científica. Penso: Porto Alegre. Sampaio, M.; Sabadini, A. & Koller, S. (2022). Produção científica: um guia prático. USP: São Paulo.